Um ônibus lotado. Um dia de chuva. Trânsito completamente congestionado. Eu sentada, imersa no som que vem dos meus fones de ouvido, depois de uma extensa jornada de estudos.
É um silêncio de pessoas tão grande.
Uma comunhão de braços pendurados
e pernas cansadas.
São diversos os olhares, tão fixos
e tão perdidos.
Divagam pelo embaçado das janelas,
com certeza o pensamento longe.
E todos estamos aqui.
Sobrencelhas se franzem, são tantas rugas.
Tantas histórias acomodadas em um só automóvel.
O suor escorre insistentemente pela testa de alguns.
As pálpebras de outros já não obedecem o comando de ficarem abertas.
E todos estamos aqui.
Parece desesperador.
É.
Caótico.
Mas é tão real. Humano. Chega a ser tragicômico.
E as músicas do shuffle do iPod vão acertando a sequência.
Parados estamos e continuamos.
Extasiada, anestesiada. Esse estado no qual me encontro.
Analisando a pequenez humana e ao mesmo tempo
tantas vidas, tantas histórias, tantos roteiros acontecendo.
E todos estamos aqui.
E no meio de tantos olhares antropológicos,
existencialistas, sociológicos, complexos
há a sensibilidade.
Alguém percebe meu ofício, sim, eu lá, derramando ferozmente as palavras,
em meio meio a essa atmosfera louca, rouca, embaçada,
as palavras vão acontecendo, correndo, velozmente, incessantemente,
enquanto nós, aqui, parados.
Isadora Barcelos
Nota da autora: Esse episódio me ocorreu hoje e contarei os fatos objetivamente posteriormente quando tiver mais tempo, mas adianto que foi uma experiência, no mínimo, curiosa.